6.
Como constituir uma equipe de liturgia
É necessário fazer a
distinção: uma coisa é a equipe que pensa a vida litúrgica da comunidade,
paróquia, diocese ou regional, outra é a equipe que atua diretamente em uma
celebração litúrgica específica.
Podemos afirmar que os
principais serviços de uma equipe de liturgia são: animação da vida litúrgica,
planejamento, coordenação, formação, assessoria e avaliação.
Primeiramente, a equipe
deve ser constituída por pessoas que de fato amam e vivem a liturgia.
Exige carisma e dom.
Exige ainda conhecimento, uma formação básica ou mais aprofundada.
Na verdade, não há uma
regra única. Vai depender de cada realidade. A diversidade de carismas e dons
enriquece a equipe.
Algumas práticas já
comprovam que o critério de representatividade não deve ser a única
possibilidade.
Em linhas gerais,
existem alguns caminhos para constituir uma equipe de liturgia:
- Iniciar com um curso,
para depois engajar as pessoas na prática;
- Ir dando
responsabilidades de acordo com o caris ma de cada pessoa (acolhida, canto,
organização etc.);
- É preciso alguém
tomar a iniciativa para dar início a uma equipe. Geralmente o apelo vem da
realidade;
- É importante que a
equipe tenha uma legitimação da autoridade competente (bispo, padre etc.).
Bem constituídas, as
equipes de liturgia vão exercer seu serviço com atenção às celebrações, à
formação e à organização, lembrando que canto-música e arte-espaço celebrativo
são partes intrínsecas da liturgia.
7.
Por uma celebração em que todos participem do mistério da salvação, cujo centro
é o mistério pascal de Jesus Cristo·
A liturgia é celebração
da história da salvação, que tem como centro e plenitude o mistério pascal de
Cristo (d. SC 5-6).
"Deus quer salvar
e fazer chegar ao conhecimento da verdade todos os homens...": assim se
inicia o número 5 da Sacrosanctum Concilium.
Todo o Primeiro
Testamento é grande canto e imensa narrativa das ações do Senhor em favor da
salvação do povo eleito (= liturgia!). A experiência do êxodo é típica e
paradigmática. Deus foi sendo descoberto sempre mais intensamente, sobretudo
pelos sábios e profetas, como aquele que, com fidelidade e eterna misericórdia
(SI 135), opera a salvação do povo. Um Deus libertador, solidário,
misericordioso, fiel, um Deus perdão, um Deus que ama a vida do seu povo, um
Deus que tudo faz para que o povo tenha salvação, isto é, vida plena.6 Assim,
Deus preparou através dos tempos o caminho do evangelho.
Então, o jeito de Deus
como perfeição da liturgia tornou-se bem claro para nós na plenitude dos
tempos, isto é, com Jesus Cristo e o seu mistério pascal. Deus Pai nos prestou
este grande serviço: deu-os o Filho. Aí está a liturgia do Pai nos oferece o
Filho!
É na paixão, morte e
ressurreição de Jesus que aparece de maneira acabada a liturgia divina:
"Cristo Senhor, principalmente pelo mistério pascal de sua sagrada paixão,
ressurreição dos mortos e gloriosa ascensão, completou a obra da redenção
humana e da perfeita glorificação de Deus, da qual foram prelúdio as maravilhas
operadas no povo do Antigo Testamento" (SC 5).
Nascendo do lado aberto
de Cristo cf. SC 5), do seu mistério pascal, a Igreja, impulsionada pelo
Espírito Santo, nunca mais deixou de se reunir para fazer memória desse
mistério tão grande, escutando a Palavra e celebrando a eucaristia, na certeza
da presença de Cristo, pois ele está presente em sua Igreja, sobretudo
nas ações litúrgicas... No sacrifício da missa (na pessoa do ministro) e,
sobretudo, sob as espécies eucarísticas... Presente está pela sua força nos
sacramentos... e pela sua palavra... Está presente quando a Igreja ora e
salmodia... (cf.SC 7).
O memorial da liturgia
divina se dá também nos outros sacramentos, nos sacramentais, nas celebrações
da Palavra e em tantas outras celebrações em nome do Senhor. Toda liturgia constitui
uma ação sagrada, feita de sinais sensíveis, que nos remete à experiência do
mistério de Cristo, de modo que é importante a celebração da Liturgia das Horas
(SC, cap. IV), do Ofício Divino das Comunidades, como também o ano litúrgico
(SC, cap. V), a música (SC, cap. VI), o espaço litúrgico e a arte sacra (SC,
cap. VII).
Pela ação ritual,
participamos do mistério pascal, que nos faz morrer e ressuscitar, dia a dia, em Cristo. Nossa vida e
história são vida e história de Cristo glorioso - nosso sofrer e vencer são
participação na morte e ressurreição de Cristo, na sua páscoa. Somos tocados
pelo mistério. A liturgia divina se comunica a nós pela memória que dela
fazemos. E como isso se dá? De maneira sensível, a saber, em comunhão com todos
os nossos sentidos, valorizando as expressões simbólicas e culturais da
comunidade humana que celebra. As ações simbólicas realizam aquilo que
significam. Assim, em verdadeiro diálogo amoroso, a comunidade celebrante,
corpo místico de Cristo, é santificada e, com profunda gratidão, glorifica o
Senhor da vida e da História.
A nossa celebração se
tornará sempre mais verdadeira e autêntica se for expressão de uma vida
agradável a Deus. Dizendo "sim" a Deus, à sua vontade e à sua obra, e
sobretudo celebrando na liturgia esse nosso "sim" vivido, estamos
levando a efeito a salvação. E dessa forma, antegozando a liturgia celeste,
vamos vivendo/ celebrando e contribuindo para a transformação do mundo em Reino
de Deus, até a vinda definitiva do Senhor Jesus (d. SC 8).
8.
Por uma formação litúrgica adequada
Na dinâmica da
Sacrosanctum Concilium, encontramos a formação como condição para a
participação na liturgia e para a concretização da renovação litúrgica
conciliar. Esta deve ser iniciada pelos pastores/padres (d. SC 14), que serão
formados nos seminários, nas casas religiosas e nos institutos de teologia por
professores devidamente preparados (d. SC 15). Não basta, porém, a formação
acadêmica; é necessário que os pastores estejam imbuídos do espírito e da força
da liturgia e dela se tornem mestres (d. SC 14).
A liturgia deve ser
fonte da vida espiritual dos presbíteros e seminaristas. Participem dela de
todo o coração tanto pela própria celebração .
quanto pelos outros
exercícios de piedade. É preciso também aprender a observância das leis
litúrgicas, para que a vida nos seminários seja impregnada do espírito
litúrgico cf. SC 17).
Enfim, todos os
pastores bem formados se empenharão em proporcionar adequada formação para todo
o povo e, particularmente, para os que exercem serviços e ministérios. Essa
formação se dará por meio de cursos, escolas etc., bem como com o próprio
exemplo (d. SC 19).
Os meios de comunicação
(rádio e televisão...) também formam. Não é por acaso que a Sacrosanctum
Concilium, falando de formação, afirma:
"As transmissões
por rádio e televisão das funções sagradas, particularmente em se tratando da
santa missa, façam-se com discrição e decoro" (SC 20).
Depois de recordarmos
os dizeres do Concílio Vaticano II sobre a formação, podemos perguntar: na
nossa realidade de Brasil e América Latina, como será a formação litúrgica?
Vamos partir do
princípio de que é preciso "uma formação litúrgica integral, envolvendo todas
as dimensões do ser humano e todas as dimensões da liturgia: a ação ritual, seu
sentido teológico, sua espiritualidade. (..,) Nesta formação estamos incluindo
a música e a organização do espaço litúrgico".
A formação litúrgica é um
processo pedagógico, tendo por objetivo final a participação ativa, exterior e
interior, consciente, plena e frutuosa de todo o povo de Deus nas celebrações
litúrgicas, ou seja, a vivência do mistério de Cristo através da participação
na ação ritual. Para atingir a pessoa humana como um todo, é preciso operar com
a dimensão corporal, relacional, intelectual, afetiva, intuitiva, imaginária,
simbólica e experiencial da mesma.
Para uma formação
litúrgica eficaz, é preciso levar em conta a metodologia. Quando se trata de
formação litúrgica, a metodologia mais indicada é a participativa, sobretudo se
está claro que tipo de liturgia se quer reforçar ou alcançar.
A metodologia da
formação litúrgica requer ainda um programa ou projeto que responda às
seguintes questões: O quê? Com quem? - agentes e destinatários. De onde e para
onde? - ponto de partida (realidade· dos participantes no contexto
sociocultural) e o ponto de chegada almejado (objetivos). Por quê? -
finalidades, justificativas.
Como? -etapas, métodos
e técnicas. O quê? -conteúdos. Quando? - tempo, duração. Onde? -local,
ambiente. Quem? O quê? Quanto? - recursos humanos, materiais e financeiros. Por
fim, execução, acompanhamento da ação e avaliação.
Falando ainda em
metodologia, é importante produzir conhecimento em mutirão, utilizando o método
ver, julgar e agir. A observação participante, o laboratório litúrgico e
vivências rituais são técnicas apropriadas para aprender liturgia, já
comprovadas pela prática. Vale ressaltar ainda o método mistagógico: do rito à
teologia.
Contribui também a
leitura orante, o processo de preparação, realização e avaliação das
celebrações litúrgicas. No espaço deste artigo não há como especificar todos
esses itens. Para maior aprofundamento, ver publicações existentes.
9.
Por melhor organização e funcionamento da equipe
Bom começo para o
processo de planejamento da equipe de liturgia é a elaboração do
calendário de
atividades, no qual são previstas as atividades relacionadas aos tempos e
festas do ano litúrgico; datas e festas da paróquia ou da comunidade; datas
especiais e reuniões da equipe de liturgia; atividades relacionadas à
catequese, à pastoral do batismo etc.
Oportuno meio para
articular o serviço da animação da vida litúrgica de uma paróquia, diocese ou
regional é o plano de ação da equipe de liturgia. Um plano benfeito e realista
permite caminhar com maior segurança, sabendo aonde se quer chegar. Existem
diferentes modos de elaborar um plano. O mais importante é começar a planejar o
rumo e as atividades que vão garantir o verdadeiro serviço de pastoral litúrgica.
A própria ação de elaborar o plano ou o calendário de atividades constituirá um
exercício de comunhão e de participação.
É importante utilizar a
dinâmica ação-reflexão-ação. Revela-se necessário que todos os participantes da
equipe sejam sujeitos da ação que a equipe desenvolverá.
9.1.
Passos para a elaboração do planejamento
-
Ver a
realidade - antes de qualquer passo, é importante que a equipe conheça a
realidade, e isso em qualquer nível.
-
Discussão
em equipe para:
-
estabelecer
objetivos (gerais e específicos);
-
eleger
prioridades;
-
elaborar
um cronograma de atividades: o que, quando, quem, onde e quanto. Aqui vemos a
importância da elaboração de um calendário litúrgico-pastoral;
-
determinar
recursos (humanos, materiais e econômicos);
-
definir
o método de avaliação.
-
Redigir
o Plano de Pastoral Litúrgico; planejamento (calendário litúrgico): prever tudo
com antecedência.
-
Execução
do Plano de Pastoral Litúrgico.
-
Avaliação
e retomada do plano de pastoral.
É importante ter
organização e uma coordenação que busque alcançar os objetivos do trabalho da
equipe e garanta a participação de todos. Convém haver acompanhamento por parte
de uma liderança.
9.2.
Organização básica e mínima
Calendário de reuniões,
coordenador(a) com liderança, local de fácil acesso, plano de trabalho,
orçamento, secretaria, documentação, biblioteca, espaços de lazer...
BIBLIOGRAFIA
ABREU, Elza Helena;
BUYST, lone. Preliminares: conceituação.
In: CENTRO DE L1TURGIA.
Formação litúrgica: como fazer? São Paulo: Paulus, 1994, p. 9-13. (Cadernos de
liturgia, 3.)
BUYST, lone. Equipe de liturgia.
8. ed. Petrópolis: Vozes, 1991.
(Equipe de Liturgia,
1.)
_ o . Pesquisa em
liturgia: relato de uma experiência. São Paulo: Paulus, 1994.
___ o Pastoral
litúrgica. Revista de Liturgia, São Paulo, p. 35-43, mar.!abr. 1989.
CNBB.Guia
litúrgico-pastoral. 2. ed. Brasília, 2006.
LUTZ, Gregório.
Pastoral litúrgica.ln: SEMANA DE L1TURGIA, 22, 2008, São Paulo. Pastoral
litúrgica 40 anos depois de Medellín: memória, desafios e perspectivas. São
Paulo, 2008. Apostila.
REVISTA DE L1TURGIA.
Ministérios litúrgicos leigos. São Paulo:
Apostolado Litúrgico,
v. 20, n.121,jan.!fev.1994.
SilVA, José Ariovaldo
da. Tentando definir a natureza da liturgia. Apostila.
SIVINSKI, Marcelino.
Pastoral litúrgica. São Paulo, 2008. Apostila do Curso de Atualização em
Liturgia.
* Pia discípula do
Divino Mestre, mestra em Teologia, com especialização em Liturgia, é membro do
Centro de Liturgia e da Equipe de Reflexão da Pastoral Litúrgica da CN BB e
trabalha como assessora nos cursos de formação litúrgica.
Notas:
1. LUTZ, Gregório.
Pastoral litúrgica. In: SEMANA DE L1TURGIA, 22., 2008, São Paulo. Pastoral
litúrgica 40 anos' depois de Medellin: memória, desafios e perspectivas.
São Paulo, 2008.
Apostila.
2. Idem, ibidem.
3. Cf. mais elementos
em: CNBB. Guia litúrgico-pastoral. 2. ed. Brasília, 2006. p.
123-125.
4. CNBB. Guia
litúrgico-pastoral. 2. ed. Brasília, 2006. p. 122.
5. BUYST, lone. Equipe
de fiturgia. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1987. (Equipe de Liturgia, 1.) 6. SilVA,
José Ariovaldo da. Tentando definir a natureza da liturgia. Apostila.
7. Idem, ibidem, 8.
BUYST, lone. Formação litúrgica integral. In: CNBB. Formação litúrgica em
mutirão li. ficha 30.
9. ABREU, E. H.; BUYST,
I. Preliminares: conceituação. In:
CENTRO DE L1TURGIA.
Formação litúrgica: como fazer?
São Paulo: Paulus,
1997. p. 9. (Cadernos de Liturgia, 3.) 10. Cf. idem,
ibidem, p. 12.
11. BUYST, lone. Formação
litúrgica: memória pessoal. São Paulo: Centro de liturgia, 1985-2006; Formação
litúrgica: o que, para que, para quem, como? Seminário sobre a Pastoral
Litúrgica. São Paulo, 11-15 de fevereiro de 2008. Apostila. Além disso, vários
artigos escritos pela autora no site da CNBB: http://www.cnbb.org.br/. Liturgia
em Mutirão 11. Cf. ainda: BARONTO, luiz Eduardo Pinheiro. Laboratório
litúrgico: pela inteireza do ser na vivência ritual. São Paulo: Paulinas, 2006.
12. CNBB. Guia litúrgico-pastoral.
2. ed. Brasília, 2006. p. 126-127.
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