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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

EQUIPES DE LITURGIA: FUNÇÕES E MODO DE ATUAÇÃO - II



6. Como constituir uma equipe de liturgia
É necessário fazer a distinção: uma coisa é a equipe que pensa a vida litúrgica da comunidade, paróquia, diocese ou regional, outra é a equipe que atua diretamente em uma celebração litúrgica específica.
Podemos afirmar que os principais serviços de uma equipe de liturgia são: animação da vida litúrgica, planejamento, coordenação, formação, assessoria e avaliação.
Primeiramente, a equipe deve ser constituída por pessoas que de fato amam e vivem a liturgia.
Exige carisma e dom. Exige ainda conhecimento, uma formação básica ou mais aprofundada.
Na verdade, não há uma regra única. Vai depender de cada realidade. A diversidade de carismas e dons enriquece a equipe.
Algumas práticas já comprovam que o critério de representatividade não deve ser a única possibilidade.
Em linhas gerais, existem alguns caminhos para constituir uma equipe de liturgia:
- Iniciar com um curso, para depois engajar as pessoas na prática;
- Ir dando responsabilidades de acordo com o caris ma de cada pessoa (acolhida, canto, organização etc.);
- É preciso alguém tomar a iniciativa para dar início a uma equipe. Geralmente o apelo vem da realidade;
- É importante que a equipe tenha uma legitimação da autoridade competente (bispo, padre etc.).
Bem constituídas, as equipes de liturgia vão exercer seu serviço com atenção às celebrações, à formação e à organização, lembrando que canto-música e arte-espaço celebrativo são partes intrínsecas da liturgia.

7. Por uma celebração em que todos participem do mistério da salvação, cujo centro é o mistério pascal de Jesus Cristo·
A liturgia é celebração da história da salvação, que tem como centro e plenitude o mistério pascal de Cristo (d. SC 5-6).
"Deus quer salvar e fazer chegar ao conhecimento da verdade todos os homens...": assim se inicia o número 5 da Sacrosanctum Concilium.
Todo o Primeiro Testamento é grande canto e imensa narrativa das ações do Senhor em favor da salvação do povo eleito (= liturgia!). A experiência do êxodo é típica e paradigmática. Deus foi sendo descoberto sempre mais intensamente, sobretudo pelos sábios e profetas, como aquele que, com fidelidade e eterna misericórdia (SI 135), opera a salvação do povo. Um Deus libertador, solidário, misericordioso, fiel, um Deus perdão, um Deus que ama a vida do seu povo, um Deus que tudo faz para que o povo tenha salvação, isto é, vida plena.6 Assim, Deus preparou através dos tempos o caminho do evangelho.
Então, o jeito de Deus como perfeição da liturgia tornou-se bem claro para nós na plenitude dos tempos, isto é, com Jesus Cristo e o seu mistério pascal. Deus Pai nos prestou este grande serviço: deu-os o Filho. Aí está a liturgia do Pai nos oferece o Filho!
É na paixão, morte e ressurreição de Jesus que aparece de maneira acabada a liturgia divina: "Cristo Senhor, principalmente pelo mistério pascal de sua sagrada paixão, ressurreição dos mortos e gloriosa ascensão, completou a obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus, da qual foram prelúdio as maravilhas operadas no povo do Antigo Testamento" (SC 5).
Nascendo do lado aberto de Cristo cf. SC 5), do seu mistério pascal, a Igreja, impulsionada pelo Espírito Santo, nunca mais deixou de se reunir para fazer memória desse mistério tão grande, escutando a Palavra e celebrando a eucaristia, na certeza da presença de Cristo, pois ele está presente em sua Igreja, sobretudo nas ações litúrgicas... No sacrifício da missa (na pessoa do ministro) e, sobretudo, sob as espécies eucarísticas... Presente está pela sua força nos sacramentos... e pela sua palavra... Está presente quando a Igreja ora e salmodia... (cf.SC 7).
O memorial da liturgia divina se dá também nos outros sacramentos, nos sacramentais, nas celebrações da Palavra e em tantas outras celebrações em nome do Senhor. Toda liturgia constitui uma ação sagrada, feita de sinais sensíveis, que nos remete à experiência do mistério de Cristo, de modo que é importante a celebração da Liturgia das Horas (SC, cap. IV), do Ofício Divino das Comunidades, como também o ano litúrgico (SC, cap. V), a música (SC, cap. VI), o espaço litúrgico e a arte sacra (SC, cap. VII).
Pela ação ritual, participamos do mistério pascal, que nos faz morrer e ressuscitar, dia a dia, em Cristo. Nossa vida e história são vida e história de Cristo glorioso - nosso sofrer e vencer são participação na morte e ressurreição de Cristo, na sua páscoa. Somos tocados pelo mistério. A liturgia divina se comunica a nós pela memória que dela fazemos. E como isso se dá? De maneira sensível, a saber, em comunhão com todos os nossos sentidos, valorizando as expressões simbólicas e culturais da comunidade humana que celebra. As ações simbólicas realizam aquilo que significam. Assim, em verdadeiro diálogo amoroso, a comunidade celebrante, corpo místico de Cristo, é santificada e, com profunda gratidão, glorifica o Senhor da vida e da História.
A nossa celebração se tornará sempre mais verdadeira e autêntica se for expressão de uma vida agradável a Deus. Dizendo "sim" a Deus, à sua vontade e à sua obra, e sobretudo celebrando na liturgia esse nosso "sim" vivido, estamos levando a efeito a salvação. E dessa forma, antegozando a liturgia celeste, vamos vivendo/ celebrando e contribuindo para a transformação do mundo em Reino de Deus, até a vinda definitiva do Senhor Jesus (d. SC 8).

8. Por uma formação litúrgica adequada
Na dinâmica da Sacrosanctum Concilium, encontramos a formação como condição para a participação na liturgia e para a concretização da renovação litúrgica conciliar. Esta deve ser iniciada pelos pastores/padres (d. SC 14), que serão formados nos seminários, nas casas religiosas e nos institutos de teologia por professores devidamente preparados (d. SC 15). Não basta, porém, a formação acadêmica; é necessário que os pastores estejam imbuídos do espírito e da força da liturgia e dela se tornem mestres (d. SC 14).
A liturgia deve ser fonte da vida espiritual dos presbíteros e seminaristas. Participem dela de todo o coração tanto pela própria celebração .
quanto pelos outros exercícios de piedade. É preciso também aprender a observância das leis litúrgicas, para que a vida nos seminários seja impregnada do espírito litúrgico cf. SC 17).
Enfim, todos os pastores bem formados se empenharão em proporcionar adequada formação para todo o povo e, particularmente, para os que exercem serviços e ministérios. Essa formação se dará por meio de cursos, escolas etc., bem como com o próprio exemplo (d. SC 19).
Os meios de comunicação (rádio e televisão...) também formam. Não é por acaso que a Sacrosanctum Concilium, falando de formação, afirma:
"As transmissões por rádio e televisão das funções sagradas, particularmente em se tratando da santa missa, façam-se com discrição e decoro" (SC 20).
Depois de recordarmos os dizeres do Concílio Vaticano II sobre a formação, podemos perguntar: na nossa realidade de Brasil e América Latina, como será a formação litúrgica?
Vamos partir do princípio de que é preciso "uma formação litúrgica integral, envolvendo todas as dimensões do ser humano e todas as dimensões da liturgia: a ação ritual, seu sentido teológico, sua espiritualidade. (..,) Nesta formação estamos incluindo a música e a organização do espaço litúrgico".
A formação litúrgica é um processo pedagógico, tendo por objetivo final a participação ativa, exterior e interior, consciente, plena e frutuosa de todo o povo de Deus nas celebrações litúrgicas, ou seja, a vivência do mistério de Cristo através da participação na ação ritual. Para atingir a pessoa humana como um todo, é preciso operar com a dimensão corporal, relacional, intelectual, afetiva, intuitiva, imaginária, simbólica e experiencial da mesma.
Para uma formação litúrgica eficaz, é preciso levar em conta a metodologia. Quando se trata de formação litúrgica, a metodologia mais indicada é a participativa, sobretudo se está claro que tipo de liturgia se quer reforçar ou alcançar.
A metodologia da formação litúrgica requer ainda um programa ou projeto que responda às seguintes questões: O quê? Com quem? - agentes e destinatários. De onde e para onde? - ponto de partida (realidade· dos participantes no contexto sociocultural) e o ponto de chegada almejado (objetivos). Por quê? - finalidades, justificativas.
Como? -etapas, métodos e técnicas. O quê? -conteúdos. Quando? - tempo, duração. Onde? -local, ambiente. Quem? O quê? Quanto? - recursos humanos, materiais e financeiros. Por fim, execução, acompanhamento da ação e avaliação.
Falando ainda em metodologia, é importante produzir conhecimento em mutirão, utilizando o método ver, julgar e agir. A observação participante, o laboratório litúrgico e vivências rituais são técnicas apropriadas para aprender liturgia, já comprovadas pela prática. Vale ressaltar ainda o método mistagógico: do rito à teologia.
Contribui também a leitura orante, o processo de preparação, realização e avaliação das celebrações litúrgicas. No espaço deste artigo não há como especificar todos esses itens. Para maior aprofundamento, ver publicações existentes.

9. Por melhor organização e funcionamento da equipe
Bom começo para o processo de planejamento da equipe de liturgia é a elaboração do
calendário de atividades, no qual são previstas as atividades relacionadas aos tempos e festas do ano litúrgico; datas e festas da paróquia ou da comunidade; datas especiais e reuniões da equipe de liturgia; atividades relacionadas à catequese, à pastoral do batismo etc.
Oportuno meio para articular o serviço da animação da vida litúrgica de uma paróquia, diocese ou regional é o plano de ação da equipe de liturgia. Um plano benfeito e realista permite caminhar com maior segurança, sabendo aonde se quer chegar. Existem diferentes modos de elaborar um plano. O mais importante é começar a planejar o rumo e as atividades que vão garantir o verdadeiro serviço de pastoral litúrgica. A própria ação de elaborar o plano ou o calendário de atividades constituirá um exercício de comunhão e de participação.
É importante utilizar a dinâmica ação-reflexão-ação. Revela-se necessário que todos os participantes da equipe sejam sujeitos da ação que a equipe desenvolverá.

9.1. Passos para a elaboração do planejamento
-        Ver a realidade - antes de qualquer passo, é importante que a equipe conheça a realidade, e isso em qualquer nível.
-        Discussão em equipe para:
-        estabelecer objetivos (gerais e específicos);
-        eleger prioridades;
-        elaborar um cronograma de atividades: o que, quando, quem, onde e quanto. Aqui vemos a importância da elaboração de um calendário litúrgico-pastoral;
-        determinar recursos (humanos, materiais e econômicos);
-        definir o método de avaliação.
-        Redigir o Plano de Pastoral Litúrgico; planejamento (calendário litúrgico): prever tudo com antecedência.
-        Execução do Plano de Pastoral Litúrgico.
-        Avaliação e retomada do plano de pastoral.
É importante ter organização e uma coordenação que busque alcançar os objetivos do trabalho da equipe e garanta a participação de todos. Convém haver acompanhamento por parte de uma liderança.

9.2. Organização básica e mínima
Calendário de reuniões, coordenador(a) com liderança, local de fácil acesso, plano de trabalho, orçamento, secretaria, documentação, biblioteca, espaços de lazer...

BIBLIOGRAFIA

ABREU, Elza Helena; BUYST, lone. Preliminares: conceituação.
In: CENTRO DE L1TURGIA. Formação litúrgica: como fazer? São Paulo: Paulus, 1994, p. 9-13. (Cadernos de liturgia, 3.)
BUYST, lone. Equipe de liturgia. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 1991.
(Equipe de Liturgia, 1.)
_ o . Pesquisa em liturgia: relato de uma experiência. São Paulo: Paulus, 1994.
___ o Pastoral litúrgica. Revista de Liturgia, São Paulo, p. 35-43, mar.!abr. 1989.
CNBB.Guia litúrgico-pastoral. 2. ed. Brasília, 2006.
LUTZ, Gregório. Pastoral litúrgica.ln: SEMANA DE L1TURGIA, 22, 2008, São Paulo. Pastoral litúrgica 40 anos depois de Medellín: memória, desafios e perspectivas. São Paulo, 2008. Apostila.
REVISTA DE L1TURGIA. Ministérios litúrgicos leigos. São Paulo:
Apostolado Litúrgico, v. 20, n.121,jan.!fev.1994.
SilVA, José Ariovaldo da. Tentando definir a natureza da liturgia. Apostila.
SIVINSKI, Marcelino. Pastoral litúrgica. São Paulo, 2008. Apostila do Curso de Atualização em Liturgia.
* Pia discípula do Divino Mestre, mestra em Teologia, com especialização em Liturgia, é membro do Centro de Liturgia e da Equipe de Reflexão da Pastoral Litúrgica da CN BB e trabalha como assessora nos cursos de formação litúrgica.

Notas:
1. LUTZ, Gregório. Pastoral litúrgica. In: SEMANA DE L1TURGIA, 22., 2008, São Paulo. Pastoral litúrgica 40 anos' depois de Medellin: memória, desafios e perspectivas.
São Paulo, 2008. Apostila.
2. Idem, ibidem.
3. Cf. mais elementos em: CNBB. Guia litúrgico-pastoral. 2. ed. Brasília, 2006. p. 123-125.
4. CNBB. Guia litúrgico-pastoral. 2. ed. Brasília, 2006. p. 122.
5. BUYST, lone. Equipe de fiturgia. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1987. (Equipe de Liturgia, 1.) 6. SilVA, José Ariovaldo da. Tentando definir a natureza da liturgia. Apostila.
7. Idem, ibidem, 8. BUYST, lone. Formação litúrgica integral. In: CNBB. Formação litúrgica em mutirão li. ficha 30.
9. ABREU, E. H.; BUYST, I. Preliminares: conceituação. In:
CENTRO DE L1TURGIA. Formação litúrgica: como fazer?
São Paulo: Paulus, 1997. p. 9. (Cadernos de Liturgia, 3.) 10. Cf. idem, ibidem, p. 12.
11. BUYST, lone. Formação litúrgica: memória pessoal. São Paulo: Centro de liturgia, 1985-2006; Formação litúrgica: o que, para que, para quem, como? Seminário sobre a Pastoral Litúrgica. São Paulo, 11-15 de fevereiro de 2008. Apostila. Além disso, vários artigos escritos pela autora no site da CNBB: http://www.cnbb.org.br/. Liturgia em Mutirão 11. Cf. ainda: BARONTO, luiz Eduardo Pinheiro. Laboratório litúrgico: pela inteireza do ser na vivência ritual. São Paulo: Paulinas, 2006.
12. CNBB. Guia litúrgico-pastoral. 2. ed. Brasília, 2006. p. 126-127.

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